Em 38 anos de relações diplomáticas entre China e Venezuela, Caracas
realizou sete visitas presidenciais a Pequim. Seis delas ocorreram a
partir de 1999, o começo da gestão Hugo Chávez. Desde então, a balança
comercial cresceu de US$ 1,9 bilhão para US$ 10,3 bilhões em 2010, ano
em que o país caribenho se converteu no Estado recipiente do empréstimo
mais alto emitido por entidades bancárias chinesas, cerca de US$ 20
bilhões.
A explicação desse aumento vertiginoso está nos empréstimos chineses
com pagamento em petróleo, que já somam US$ 38 bilhões. Na base desse
esquema está o Fundo Misto Sino-Venezuelano, criado em 2008 para obras
de infraestrutura e até a compra de um satélite.
Mas esse intercâmbio comercial não é proporcional ao interesse chinês
de investir na Venezuela, na opinião de Wang Peng, da Academia de
Ciências Sociais da China, o “think tank” mais influente do país.
Especialista em Venezuela, Wang afirma que as circunstâncias do país,
que, por 12 anos, tem sido cenário de experimentação política, econômica
e social do chamado socialismo bolivariano, estão afugentando os
investidores chineses.
A afirmação contrasta com um Chávez que, em seu terreno, sempre se
mostra confiante na fortaleza dos nexos estabelecidos com a China, país
que, em seu discurso, ainda chama de “a nação de Mao Zedong”. De fato,
suas descrições da China, após visitas à capital asiática, parecem tão
pouco ajustadas à realidade que boa parte dos venezuelanos se surpreende
ao escutar que Pequim está abarrotada de carros Audi e lojas Chanel.
Mais além disso, Chávez acelerou a relação comercial. No começo de
sua gestão, em 1999, a balança com a China fechou em déficit de US$ 1,3
bilhão. Quatro anos depois, a situação se reverteu numa espécie de ponto
sem retorno, com a ressalva de que os envios venezuelanos praticamente
se resumem a petróleo.
Para colocar em números, basta olhar as cifras de 2008, ano en que o
intercâmbio alcançou o máximo histórico de US$ 9,6 bilhões. As
exportações venezuelanas somaram US$ 6,5 bilhões, mas apenas US$ 270
milhões eram de exportações não petroleiras, segundo o Banco de Comércio
Exterior da Venezuela.
Ao todo, o petróleo representou 78,3% das vendas venezuelanas a
China entre 2007 e 2009, de acordo com a Comissão Econômica para América
Latina e Caribe (Cepal). O país passou a exportar anualmente 1,2 milhão
de toneladas de petróleo no início da gestão Chávez para 20 milhões uma
década depois.
Alguns economistas venezuelanos têm criticado constantemente essa
variação alegando que, além de crescente, essa aliança comercial nos
términos estabelecidos não é favorável para a Venezuela. Pelo contrário,
está se transformando numa camisa de força. A pergunta é se o país
realmente tem capacidade para diversificar a balança e se a China está
interessada em algo além do petróleo.
O analista chinês joga por terra as especulações e sentencia que os
investidores chineses não têm interesse em fincar pé em terras
bolivarianas. Afirma que o incremento da violência, as regras do jogo
econômico e o ambiente político radicalizado e intolerante explicam a
situação. Wang inclusive acredita que outorgar empréstimos ao governo
Chávez é “um pouco arriscado, embora muito lógico proque o governo
chinês quer assegurar o petróleo”.
De fato, entre 1990 e 2009 o investimento direto chinês na Venezuela
foi de apenas US$ 240 milhões, segundo a Cepal. No Peru, país com
dimensões semelhantes, o investimento vindo de Pequim alcançou US$ 2,3
bilhões. “Os riscos políticos na Venezuela são muito altos”, afirma
Wang. “O governo [Chavez] está tentando centralizar o poder para
controlar a economia. As empresas estrangeiras não podem obter dólares
ou transferir seus lucros aos países de origem. As divergências
políticas são fortes entre o partido governista e os da oposição. A
situação doméstica realmente preocupa o investidor chinês”.
Wang também descarta a possibilidade _aventada por Chavez em sua
aproximação inicial_ de que a China se transforme no padrinho político
venezuelano em sua luta “contra o império”, numa relação similar entre a
da URSS com Cuba na Guerra Fria. “A China compreende que uma parceria
baseada na lógica política prejudicaria seus intereses no longo prazo,
porque uma mudança de governo poderia arruinar toda a cooperação
alcançada previamente. Então, na opinião de Pequim, os acordos entre
China e Venezuela são altamente comerciais”.
Henrique Capriles Radonski, o opositor de Chávez neste domingo (7),
se diz favorável a continuar a aproximação com Pequim, mas adverte que
revisará os acordos em vigor. Caso haja incompatibilidade con o marco
legal venezuelano, afirma, os acordos serão rediscutidos. Capriles
adianta que os acordos creditícios sobre a garantia de envios
petroleiros, por exemplo, contradizem o marco legal venezuelano.
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Paula Ramón jornalista venezuelana. 10/10/12
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