Bolivianos mantêm intensos protestos contra estrada na Amazônia

Posted by João Luis

Mesmo após a queda de dois ministros e a suspensão das obras de uma polêmica estrada que deve cortar uma reserva indígena em áreas amazônicas, centenas de bolivianos saíram às ruas nesta quarta-feira (28) e grupos de índios disseram que devem retomar sua marcha de protesto. Na capital, La Paz, mineiros lançaram dinamites e a polícia agiu para conter os manifestantes, no que já se transformou numa das maiores crises enfrentadas pelo presidente Evo Morales.

Os índios amazônicos bolivianos anunciaram nesta quarta-feira que irão retomar a marcha até La Paz contra a construção da rodovia, reafirmando um desafio político que abalou a liderança do governo boliviano.


Jorge Bernal/France Presse
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Manifestante usando máscara de Evo Morales empunha cartaz em La Paz que adverte: "estrada ou morte"

Construída pela empreiteira brasileira OAS com financiamento do BNDES, a estrada, que tem 306 km e atravessa uma reserva natural em áreas amazônicas de 1,2 milhão de hectares, deve custar US$ 415 milhões.

Os indígenas amazônicos, que rejeitam a estrada porque a obra atravessará o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), argumentam que a obra pode levar à ruína da reserva ecológica e à invasão da área por produtores de coca, planta base para fabricar cocaína.

O ápice da crise, após 40 dias de intensos protestos de indígenas, militantes e civis por todo o país, ocorreu no domingo (25), quando o governo ordenou uma violenta ação policial --usando gás lacrimogêneo e cassetetes-- para conter cerca de 1.500 manifestantes.

Aizar Raldes/France Presse
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Moradores de Rurrenabaque marcham em protesto contra polêmica estrada; cartaz diz: "governo caçador de indígenas"

Dois ministros e vários outros funcionários deixaram o governo desde o início da semana por causa da violenta ação policial.

Os índios, fortalecidos por uma onda nacional de solidariedade, incluindo uma greve parcial convocada pela Central Operária Boliviana (COB), declararam nesta quarta-feira em uma manifestação na localidade de Rurrenabaque, no norte do país, que "a luta continua."

"Viva a histórica marcha pelo Tipnis, a marcha continua", disse uma resolução dos aproximadamente 200 indígenas presentes na assembleia, lida pela dirigente Mariana Guasanía.

Diante da resistência ao projeto, Morales, que também é indígena, anunciou que o projeto ficará suspenso até que moradores das regiões afetadas se manifestem em referendo.

Inicialmente, os manifestantes exigiam ser consultados sobre o projeto, mas a nova demanda dos grupos diz que agora eles rejeitam o referendo e querem uma lei que garanta a preservação do Tipnis. O texto não diz quando a marcha até La Paz será retomada.

INVESTIGAÇÃO

Guasanía disse que os manifestantes exigem também uma investigação imparcial sobre a repressão policial de domingo, que atribuíram a Sacha Llorenti, que por causa do incidente renunciou na segunda-feira ao cargo de ministro do Interior (Casa Civil).

A ministra da Defesa de Morales, Cecilia Chacón, também pediu demissão em protesto contra a violência policial.

Gaston Brito/Reuters
Nas ruas de La Paz, polícia agiu para conter manifestantes e mineiros lançaram dinamites durante intensos protestos
Nas ruas de La Paz, polícia agiu para conter manifestantes e mineiros lançaram dinamites durante intensos protestos

A dirigente indígena disse que não há mortes confirmadas por causa do incidente, mas que dezenas de pessoas estão desaparecidas.

Ao dar posse a novos ministros na noite de terça-feira, Morales pediu desculpas aos índios pela "imperdoável brutalidade" policial, negou ter ordenado a intervenção, e acusou vários meios locais de comunicação de distorcerem os fatos, especialmente ao noticiarem que havia vários mortos no local.

Morales, primeiro indígena a governar a Bolívia, enfrentava até agora uma dura oposição de setores conservadores, especialmente do leste do país. Esta é a primeira vez que a resistência ao seu governo parte de grupos indígenas.

BRASIL

O Itamaraty defendeu a obra, na segunda-feira, dizendo tratar-se de uma estrada importante para a integração boliviana.

"(...) Se trata de projeto de grande importância para a integração nacional da Bolívia e que atende aos parâmetros relativos a impacto social e ambiental previstos na legislação boliviana", afirma trecho do comunicado.


Jorge Bernal/France Presse
Centenas de trabalhadores aderiram à greve geral convocada para esta quarta-feira na capital da Bolívia
Centenas de trabalhadores aderiram à greve geral convocada para esta quarta-feira na capital da Bolívia

Já a empreiteira brasileira OAS, construtora da estrada, disse nesta terça-feira (27) que confia que o governo local chegará a um acordo com as comunidades indígenas.

"Confiamos no governo pluricultural da Bolívia, na origem indígena do presidente Morales, que foi o primeiro a reconhecer os direitos dos índios, para que se chegue a um acordo sobre o melhor traçado dessa parte da rodovia", declarou o diretor superintendente da Área Internacional da OAS, César Uzeda.

O interesse brasileiro na obra reside na saída da produção de grãos, principalmente da soja, do Brasil para o Pacífico através da Bolívia. Agora é hora do presidente da Bolívia mostrar sua coerência política, por ter origem indígena, e negociar com os seus semelhantes, que é maioria no seu país. Post e comente a respeito da temática! 29/09/11

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