Governo paraguaio também quer revisar entrada da Venezuela no bloco
"A decisão de sair do Mercosul não será uma decisão tomada neste governo", disse o presidente Federico Franco
(Jorge Adorno/Reuters)
O governo do Paraguai anunciou nesta sexta-feira que comparecerá ao
Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul (TPR) na próxima semana para
tentar restabelecer seus direitos no bloco: além
de tentar recuperar sua posição no Mercosul (o país está suspenso
temporariamente), o Paraguai quer a revisão da entrada da Venezuela.
"Vamos iniciar ações legais diante do Tribunal Permanente para
restabelecer os direitos da república no Mercosul e analisar a
incorporação da Venezuela, que nosso país considera que não se ajusta ao
direito internacional, nem aos tratados", explicou o ministro das
Relações Exteriores do Paraguai, José Fernández, em entrevista coletiva,
ao lado do presidente Federico Franco.
Franco apenas garantiu que o Paraguai não tomará a decisão de abandonar
o Mercosul, já que foi suspenso temporariamente por seus sócios,
Brasil, Argentina e Uruguai, como retaliação pelo impeachment de Fernando Lugo.
"A decisão de sair do Mercosul não será uma decisão tomada neste
governo", disse Franco, cujo mandato como sucessor de Lugo termina dia
15 de agosto de 2013.
O TPR, criado em 2004, é a instância que "garante a correta
interpretação, aplicação e cumprimento dos instrumentos jurídicos
fundamentais" do processo de integração do bloco. O tribunal é
consultado para interpretar e responder questões judiciais, apresentadas
por parte de algum dos membros do Mercosul, e garantir sua coerência e
segurança legal.
Unasul - Em relação à suspensão decretada pela União de Nações Sul-americanas (Unasul)
e a possível saída do Paraguai do bloco regional, o chanceler lembrou
que já haviam respondido em comunicado que analisarão a possibilidade de
continuar ou não na Unasul.
Além de defender a permanência do Paraguai no Mercosul, o ministro das Relações Exteriores agradeceu à Organização dos Estados Americanos (OEA)
pela missão de observação que visitou Assunção no início desta semana,
liderada pelo secretário-geral do órgão, José Miguel Insulza.
O presidente paraguaio criticou a posição de Lugo de se mostrar a favor
da suspensão do Paraguai no órgão internacional. "Esse é um momento da
unidade. Respeito a opinião, mas me oponho completamente", afirmou
Franco.
Por Maíra Vasconcelos, de Montevidéu, especial para a folha on line
O
atual governo paraguaio passará por um isolamento político, após ser
suspenso das reuniões do Mercado Comum do Sul (Mercosul), ao menos até
as próximas eleições presidenciais, em abril de 2013. O mandato de nove
meses, a ser cumprido por Federico Franco, e o processo que conduzirá o
país ás próximas eleições, será monitorado pelo Mercosul, que de acordo
com o cenário político internacional, poderá prolongar o prazo de
suspensão. Com o Paraguai temporariamente carta fora do jogo, a crise
interna do país foi a oportunidade vista pelo Mercosul para crescer com a
inclusão da Venezuela.
“Venezuela é o quarto exportador de petróleo, e tem
poder de voto nas Nações Unidas. Distribui petróleo a muitos países e
tem negócios fortes. O Paraguai leva o voto de Taiwan. O que posso lhe
dizer?”.
As projeções frente ao atual cenário de conflito
político internacional vivido pelo Paraguai foram desenhadas por Milda
Rivarola, historiadora e socióloga Paraguaia, exilada política na
Espanha e na França, por dez anos, durante a ditadura de Alfredo
Stroessner (1954-1989). Ela afirmou não ser “luguista” e contou ter
rejeitado o cargo de ministra de Relações Exteriores, ao ver a
impossibilidade de trabalhar com os políticos disponíveis no Congresso.
“Suspender e observar. Em linguagem médica se chama
quarentena. Alguém que tem um vírus perigoso é afastado dos demais,
observado e depois são tomadas as medidas, se é que essa enfermidade é
realmente contagiosa”, concluiu, irônica, Milda Rivarola.
Segundo a socióloga, a classe política paraguaia irá
entender as desvantagens em não participar do Mercosul, quando for
tomada alguma medida econômica, como a elevação dos impostos aos
empresários que comercializam com os países do bloco.
Pois, de acordo com Rivarola, apenas com aplicações
econômicas os empresários agroexportadores que apoiaram e fomentaram o
golpe contra o ex-presidente Fernando Lugo, entenderão o que significa a
suspensão do Mercosul e, assim, poderiam deixar de apoiar o atual
governo de Federico Franco.
“Quando os produtores de soja, os pecuaristas e
industriais perceberem o que lhes custou o golpe, aí podem deixar de
apoiar o governo. Eles acreditaram que o golpe sairia grátis. É preciso
mostrar o que custa ser suspenso do Mercosul. Que sintam no bolso, pois é
o único lugar onde entendem”, afirmou Rivarola.
Ao tratar a classe política paraguaia de predadores
do Estado, Rivarola ressaltou que o parlamento atuou sem pensar nas
consequências políticas, pois não sabem administrar e não têm
conhecimento sobre relações exteriores.
“Não pensaram nas consequências. Provocaram um
conflito externo que não sabem dirigir. Não administram a posição e
situação que o Paraguai tem no mundo”, disse Rivarola, que lembrou o
fato de que o início da guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) foi
celebrado no Paraguai, e ela acredita que agora o cenário se repete.
“Estão fazendo o mesmo convertendo um conflito
externo no Mercosul, que não podem administrar, em propaganda política
interna. Retornaram da reunião da OEA dizendo que foi um êxito, quando
foram desmerecidos. E falam como se não existisse internet”, afirmou
Rivarola. Durante a reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA),
não foi decidido o envio de uma delegação ao país, o que fez o
secretário-geral, José Miguel Insulza, disponibilizar-se para verificar a
situação político-social.
Suspenso até...
A possibilidade de seguir suspenso das reuniões do
Mercosul, após abril de 2013 – mesmo ao cumprir com as eleições
presidenciais livres e democráticas – não deixa de ser considerada pela
possível continuidade dos desacordos entre as políticas externas e
internas implementadas pelo Paraguai e os demais países do bloco.
Para Milda Rivarola, o país não traz benefícios ao
Mercosul, pois impõe vetos aos projetos de crescimento do bloco, como
era a impossibilidade de acordos comerciais com a China, devido ás
relações do Paraguai com Taiwan, e além de sempre haver sido o único
país contrário ao ingresso da Venezuela.
“Isso era o Paraguai no Mercosul, um país pequeno
que não oferecia nenhuma vantagem comparativa e impunha veto a todos os
projetos de desenvolvimento do bloco para construção de um conjunto
competitivo frente á União Europeia e outras uniões mundiais”, disse
Rivarola.
Mais um fator que poderia somar como justificativa
para o prosseguimento da suspensão do Paraguai, no Mercosul, é quem será
o presidente eleito no próximo ano. Questionada sobre a possível
vitória de um dos três empresários mais ricos, Horacio Cartes, candidato
pelo Partido Colorado, que deixou de governar o país, por primeira vez
na história, após a vitória de Fernando Lugo.
“Difícil pensar que sentarão para dialogar com
Horacio Cartes”, afirmou Rivarola. Horacio Cartes esteve preso por
evasão de divisas, na época da ditadura militar, hoje, é dono de várias
empresas, inclusive da marca de refrigerante mais popular do Paraguai
(Pulp) e conhecido como dono do “Club Libertad”, o qual atualmente
preside.
Post a respeito do verdadeiro tufão que atingiu o Paraguai e o Mercosul! 11/07/12
Post a respeito do verdadeiro tufão que atingiu o Paraguai e o Mercosul! 11/07/12
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