Os números de vítimas letais do ebola continuam subindo. Segundo os dados atualizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na última quarta-feira (20), 1.350 pessoas já morreram em decorrência da atual epidemia e, desde o início dela, 2.473 casos já foram identificados. O vírus do ebola foi descoberto no ano de 1976, e já fez milhares de vítimas em outros surtos epidêmicos. No ano da descoberta, um surto violento na República Democrática do Congo e no Sudão do Sul afetou 602 pessoas, das quais 431 morreram em decorrência do vírus. Só na República Democrática do Congo, o índice de mortalidade atingiu quase 90% dos casos. No ano de 1979, o ebola atingiu 637 pessoas e matou 454, no Sudão do Sul – mais de 70% dos casos.
Se por um lado o vírus está matando menos agora, com quase 55% de mortalidade de acordo com os dados atualizados, o tempo de incubação do vírus poderia estar aumentando. O infectologista Thiago Mamede explicou que em 1976 as descrições da epidemia apontavam para um período de incubação muito menor do vírus. Os casos chegavam a óbito em dois ou três dias, de acordo com o especialista. Mamede explica que, em julho, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência de saúde norte-americana, estimou em cerca de semana o período de incubação do ebola. Agora, os dados oficiais seriam de até 21 dias.
De 1976 até 2012, foram 2.387 casos, dos quais 1.387 morreram. Se essa epidemia está matando proporcionalmente menos do que quando comparada com surtos anteriores, Mamede teme que isso signifique uma adaptação do vírus. O infectologista acredita que isso também esteja relacionado com o fato de, pela primeira vez, o vírus estar atingindo quatro países diferentes na mesma epidemia – o máximo até então tinham sido dois países simultâneos.
O infectologista explica que, dentro do corpo humano, existe uma série de micro-organismos, muitos deles benéficos para o funcionamento padrão do próprio organismo. Esses micróbios estariam bem adaptados ao corpo humano. Quando um micro-organismo causa a morte do paciente, é um sinal de que ele não tem uma boa capacidade de adaptação ao corpo humano. Evolutivamente, é interessante para o vírus que seu hospedeiro não morra, visto que a morte desse hospedeiro afeta também a sobrevivência do vírus. Mamede explica também que quanto mais alta é a velocidade de mortalidade de um vírus, menos tempo existe para que ele seja transmitido de uma pessoa para outra.
Mamede diz que o problema do aumento do período de incubação está no fato de pessoas circularem por outros países sem o conhecimento de que estão doentes. “O vírus do ebola não está adaptado ao corpo humano, a doença dura pouco e o tempo de transmissão é muito pequeno. O período de incubação está aumentando e isso pode ser um sinal de adaptação do vírus ao organismo humano. É muito teórico, mas uma teoria baseada em dados. Ele não transmite durante o período de incubação, independente de ser sete dias ou 21. O problema é que o período de incubação aumentar facilita o trânsito de pessoas contaminadas de um lugar para o outro. Por isso, a estratégia de você orientar as fronteiras é uma estratégia adequada”, conta.
Além disso, Mamede diz que a transmissão do ebola é algo muito limitado, o que também dificulta a propagação da doença. Ele diz ainda que, por se tratar de um vírus envelopado, ele perde as propriedades de contaminação com muita facilidade: qualquer sabão inativa o vírus encontrado nas secreções dos contaminados, segundo Mamede. “As autoridades públicas ficam um pouco mais tranquilas por conta da má adaptação do vírus e por conta de um modelo de transmissão medíocre. Ele é medíocre porque só passa por secreção e, de certa forma, dá para controlar. Ele não transmite na fase de incubação, antes da pessoa apresentar os sintomas, o que também facilita o controle. É um vírus que só transmite por contato”, explica.
O caso já pode ser tratado como uma pandemia? A simplificação do contagio é uma verdade ou mentira? Post e comente a temática! 22/08/14.
2 comentários:
João, a despeito do fato de que as epidemias as propagações virais, não raramente, subverteram a técnica e os domínios humanos, o Ebola tem uma face interessante, e ganha relevos geopolíticos bastante salientes. Enquanto que retido no pobre continente, o esforço mundial de combate pouco transcendeu o mesmo reduto humanitário que já sustinha a África, em outros espectros de crise. Mas quando o dito cujo extravasa seus limítrofes, e passa a ameaçar a "digníssima" Europa e a rica América nortista, a mobilização sanitarista e a dialética internacional ganha dimensões muito diferentes e resvala, de novo, no mesmo jogo de interesses - pouco multipolar, na verdade - que sempre tencionou a correlação de forças no mundo. No mais, esse discurso de simplificação que você provoca é mesmo a velha retórica dos países centrais que permeia, desde que existem, suas política externas, minimizando ou dirimindo os flagelos alheios.
Liz, aluna tua no Oficina.
Parabéns! Perfeita analise do processo. Continue assim!
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