De acordo com o autor, o capitalismo não pode se apresentar como solução para a desigualdade, porque a distribuição de renda não acompanha o ritmo de acúmulo das riquezas. Assim, mesmo que fosse alcançado o capitalismo "perfeito", ainda haveria ricos e pobres. O livro se tornou um best-seller e foi defendido por nomes como o de Paul Krugman, economista ganhador do prêmio Nobel de 2008.
"É um bom livro porque levanta a questão da desigualdade da riqueza, que é um aspecto importante, principalmente após a crise de 2008. Thomas Piketty fez um excelente levantamento estatístico e tem o grande mérito de ter colocado em pauta este tema da desigualdade", aponta Antonio Carlos dos Santos, economista da PUC-SP. "Após a Primeira Guerra Mundial, foram realizadas políticas econômicas favoráveis à redução da desigualdade. Piketty argumenta que esse período de redução não alterou o longo processo de aumento da desigualdade. No capitalismo isso seria uma tendência, ou seja, se o mercado agisse livremente, haveria o crescimento da desigualdade. Ele afirma que o único meio de reverter esse cenário é por meio de ações no campo da política", explica.
Na última sexta-feira (23), o jornalFinancial Times publicou uma análise apontando uma série de supostos erros no estudo de Piketty e colocando em dúvida a relevância da obra. O autor do texto criticou Piketty, dizendo que os ajustes realizados nas projeções para épocas que não havia dados não foram justificados e que o mesmo método não foi utilizado para todos os países. Piketty respondeu esclarecendo que a disponibilidade de dados sobre a riqueza não é a mesma que sobre a renda e que, para homogeneizar as diversas fontes de informação, os ajustes foram necessários.
O economista da PUC-SP reitera a dificuldade de encontrar dados sobre as riquezas e acredita na veracidade do trabalho de Piketty. "Dados sobre renda são de fácil acesso, enquanto os de riqueza são escassos e devem passar por tratamento estatístico. É bom lembrar que o livro é um entre vários estudos do Piketty, que faz parte de um grupo de economistas que realizam importantes trabalhos. É muito pouco provável que os resultados obtidos por Piketty venham a ser revertidos por novas estatísticas", defende.
Claudio Dedecca, economista da Unicamp, assegura que é um exagero dizer que a obra traz novidades, mas reconhece a importância da mesma. "O tema da desigualdade já foi explorado, há uma literatura ampla sobre essa tendência, então é um certo exagero dizer que a obra traz conclusões inéditas. As conclusões de Piketty são amplamente amparadas, já exploradas na literatura internacional e brasileira", aponta. "Por outro lado, o livro tem o mérito de constituir um fórum público importante e amplo em torno do tema. O autor fez um trabalho muito esforçado e meritório, dando visibilidade a um problema real da sociedade capitalista", pondera.
"Foi bom para mostrar que o capitalismo não funciona bem como promete, já que agrava as desigualdades. Na primeira metade do século XX, a Inglaterra já havia taxado as heranças para impedir esta tendência, assim como outros países europeus. Depois dos anos 80 (XX), houve um enfraquecimento da regulamentação do estado sobre a economia e foram abertas brechas para que houvesse um aumento na desigualdade, para que a taxação sobre as heranças fossem reduzidas. No Brasil há um projeto de lei formulado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, 'dormindo' há décadas no Congresso, que objetiva taxar as heranças para diminuir os efeitos da desigualdade", continua o economista.
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