A Venezuela tem o risco país mais alto do mundo, inflação que atingiu os 56,3% anuais, desabastecimento de 26,2% da cesta básica, índice de homicídios em Caracas três vezes superior ao de São Paulo e queda de 27% nas reservas em 12 meses (estão em apenas US$ 20,525 bilhões). A Venezuela também tem uma onda de protestos que se alastra pelas ruas, que já provocou a morte de três pessoas e que tem mais uma manifestação marcada para esta terça-feira.
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A tal manifestação foi marcada pelo grupo liderado por Leopoldo López e María Corina Machado, corrente oposicionista radical que usa a expressão "La Salida" e pede a renúncia do presidente Nicolás Maduro. Por sua vez, Maduro se aproveita da disposição de López e Corina para atribuir motivações golpistas a todos os seus oponentes, mesmo que outra vertente dos críticos, liderada pelo ex-candidato presidencial Henrique Capriles, veja a opção eleitoral como a adequada para chegar ao poder. Capriles, aliás, já convocou outro protesto, do seu grupo, para dia ainda indeterminado.
– A situação é grave e de incerteza. Está difícil me concentrar para trabalhar hoje – comenta a escritora e jornalista venezuelana Milagros Socorro.
Viés autoritário
O historiador Carlos Malamud, especialista em América Latina do Real Instituto Elcano de Estudos Internacionais e Estratégicos, da Espanha, identifica um autoritarismo crescente por parte do governo, que rotula os opositores de golpistas, mantém confronto com os empresários (cuja margem de lucro não pode ser superior a 30%) e rejeita licença para os jornais comprarem o papel de que precisam para circular (leia entrevista ao lado). Malamud atribui essa escalada autoritária à fragilidade de Maduro (que derrotou Capriles nas eleições de abril passado por pouco mais que um ponto percentual) e ao fato de os chavistas se dizerem responsáveis pela chamada "revolução bolivariana", que levou o país ao "socialismo do século 21".
– Como houve uma revolução, segundo o discurso bolivariano, somente o governo, encarnação da vontade popular, pode ganhar eleições – analisa Malamud. – Qualquer pretensão opositora de afastar o chavismo mediante as urnas é denunciada como desestabilizadora e apresentada como potencial golpe de Estado. Em seus 10 meses como presidente, Maduro denunciou uma dezena de intentonas sem apresentar provas. A polarização é uma das armas favoritas do populismo latino-americano.
Novas expulsões
Em recente discurso, Maduro deu razão à interpretação do historiador.
– Na Venezuela, não há três, quatro ou cinco opções, só há dois modelos que se enfrentam. Um é o dos que sabotam a economia, que tiram o alimento do povo e manipulam os jovens. O outro é o dos que queremos trabalhar, dos patriotas – disse, ao convocar uma "marcha pela paz, contra o fascismo e contra o golpismo".
O governo tem atribuído a crise econômica e em especial o desabastecimento a boicotes empresariais. Acusa também o governo americano de insuflar a oposição local. Ontem, Maduro anunciou que expulsou três funcionários consulares americanos, acusados de participação em reuniões com universitários, ao mesmo tempo em que prosseguiam os protestos de estudantes, que pedem, além de melhoras socioeconômicas, o fim da repressão e da violência no país.
– Dei a ordem ao chanceler de declarar persona non grata e expulsar do país esses três funcionários consulares da embaixada dos EUA. Que vão conspirar em Washington! – disse Maduro, em rede nacional de rádio e televisão, tomando atitude que não chega a ser nova: no fim de setembro, ele já expulsara três diplomatas americanos, entre eles a encarregada de negócios Kelly Keiderling, acusados pelo governo de conspirar em reuniões com opositores.
Enquanto isso, os estudantes continuam protestando e prometem mais.
– Vamos continuar na rua, em paz, sem violência. Exigimos de Nicolás Maduro o desarmamento dos "coletivos" (grupos chavistas). Se não os desarmarem, continuaremos nas ruas – disse, para a agência de notícias France Presse, Gabriela Arellano, estudante da Universidade dos Andes e líder do movimento.
A verdadeira cara bolivariana é a que estamos vendo na Venezuela. A saída de Chavez não altera o cenário totalitário do governo do país com a entrada de Maduro no poder. A entrada da Venezuela no MERCOSUL de forma oficial com a aceitação do senado paraguaio confirma os jogos de bastidores para a manutenção das esquerdas no poder no continente. Estamos revivendo o meio século da ditadura no "Brasil"? Agora com as esquerdas? Qual o futuro que podemos esperar? Post e comente a temática! 29/03/14.
6 comentários:
Essa oposição liderada por Leopoldo López e María Corina Machado representa que parte da população Venezuelana? Seria aquela parte ligada ao mercado do petróleo que se encontra em crise e, portanto, insatisfeita? Houve protestos do mesmo grau de violência no governo de Chávez ou seria um azar particular para Maduro?
O problema da Venezuela começa e termina nos interesses dos dirigentes políticos ficarem eternizados no poder. O petróleo é apenas a moeda de troca para o discurso de manutenção de ações bolivarianas no país, e manter o populismo em alta. Basta a classe média apertar o cerco que o país promove severa censura. Investigue com pessoas que residem no país a real condição que eles vivem. Falta até material de limpeza nos mercados. Valeu pelo comentário.
João, li recentemente e ouvi comentários acerca de uma possibilidade de uma ditadura de esquerda no Brasil e que uma prova disso são os laços cada vez mais estreitos que o Brasil está tendo com Cuba e também que está havendo um forte movimento militar contra isso… Achei meio duvidoso, mas quero saber a sua opinião sobre isso! Grata!
Nem pensar um novo golpe de Estado por aqui. A realidade é que existe uma atmosfera de movimentos orquestrados por diversas categorias e uma falta de habilidade do governo em lidar com a situação. A copa vem aí, e o perigo aumenta. Valeu pelo comentário.
Boa Noite, João!
É fato que a Venezuela anda frágil no que tange a alta inflação e o desabastecimento interno. É fato, também, que inúmeras críticas são pertinentes à atual gestão no governo do país. Mas de onde viriam, porém, esses setores que agora se rebelam contra Maduro? Por que as camadas baixas, que obtiveram certo ascenso sob as mãos de Chávez, não se juntam às reivindicações das ruas? A quem incomoda, primordialmente, essa possível crise econômica da Venezuela?
Analisando os rumos tomados pelas jornadas venezuelanas de 2014, as respostas que me vêm à mente suscitam uma latente insatisfação das Classes Médias, isto é, as forças que sempre se atrelaram à oposição dos mandatos populares de Chávez e Maduro. Mais do que uma revisão econômico-comercial ou melhoras no sistema de segurança estatal, o principal interesse (ainda que implícito) desses atos de rua ainda me parece ser a fragilidade do governo Maduro e o consequente abandono das políticas de distribuição de renda e de manutenção reformas sociais todos os âmbitos.
Noutras palavras, o que afirmo é que estes recentes episódios são, essencialmente, clássicos exemplos de conflitos de Classe - nada mais.
O que acha?
Valeu, meu caro! Abraço!
É claro que interesses de classes detonam movimentos em um regime tido como "socialista", porém com claros jogos de interesses classistas por parte dos governos. Penso que o Madurismo não tem a força política do Chavismo, levando a uma falta de habilidade na condução de reações populares. Além disso o massacre a classe média com medidas que arrocham justamente a eles potencializam as revoltas. O futuro dirá melhor. Valeu pelo comentário!
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