É provavelmente a notícia mais esperada desde que o primeiro planeta fora do Sistema Solar foi descoberto, em meados dos anos 1990. Finalmente foi encontrado um planeta que tem praticamente a mesma massa da Terra.
E a grande surpresa: ele fica ao redor de Alfa Centauri, o conjunto estelar mais próximo do Sol.
Concepção artística do planeta descoberto em Alpha Centauri |
Diz-se conjunto porque trata-se de um sistema trinário, ou seja, com três estrelas. O planeta, com 1,13 vez a massa da Terra, está orbitando Alfa Centauri B, ligeiramente menor e mais fria do que nossa estrela-mãe.
A má notícia é que esse mundo recém-descoberto não pode abrigar vida. Girando em torno de sua estrela uma vez a cada 3,2 dias (imagine um ano que dura três dias!), ele está muito perto do astro --deve ser um inferno.
Em compensação, o achado coroa uma longa busca por planetas em torno desse sistema próximo, localizado a 4,3 anos-luz de distância.
"É perto o suficiente para que os engenheiros pelo menos comecem a pensar numa forma de mandar uma sonda até lá", diz Eduardo Janot Pacheco, astrônomo do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP) que trabalha com planetas extrassolares, mas não esteve envolvido na atual pesquisa.
NO LIMITE
O achado foi feito no limite extremo da tecnologia da busca de planetas. O estudo foi encabeçado por Xavier Dumusque, do Observatório de Genebra, e faz parte dos esforços do grupo de Michel Mayor, pesquisador responsável pela descoberta do primeiro mundo extrassolar girando ao redor de uma estrela similar ao Sol, em 1995.
O instrumento capaz de detectar esse planeta é o Harps, instalado em La Silla (Chile), num telescópio de 3,6 metros pertencente ao ESO (Observatório Europeu do Sul).
Trata-se de um dispositivo capaz de analisar a luz de uma estrela e detectar um ligeiro bamboleio gravitacional nela, ocasionado pela presença de planetas por perto. Contudo, para um planeta tão pequeno como o de Alfa Centauri B, foi preciso medir diferenças de velocidade da ordem de 51 cm/s (a velocidade de uma caminhada). O desempenho ideal do Harps vai até 40 cm/s.
Por essa razão, apesar do entusiasmo, os astrônomos estão recebendo a empolgante notícia com um pé atrás.
"É possível, mas não dá para ter certeza de que o planeta está mesmo lá sem fazer uma análise bem detalhada, que consumirá muito tempo", diz Sylvio Ferraz Mello, astrônomo do IAG-USP especialista em dinâmica orbital.
O estudo foi publicado online pela revista científica britânica "Nature", e o mais entusiasmante nele não é tanto o que se viu, mas sim o que não se viu.
"O planeta deve ser muito quente para ter vida tal como a conhecemos", diz Stéphane Udry, um dos co-autores do estudo. "No entanto, esse pode muito bem ser um planeta num sistema de vários."
O que pode significar a existência de um planeta na região habitável de Alfa Centauri. O duro será enxergá-lo com as tecnologias atuais.
De toda forma, a perspectiva está aí: talvez não só não estejamos sós no Universo como os vizinhos mais próximos estejam logo ali, no próximo quarteirão.
Temos muito para garimpar no espaço. Seremos capazes de colonizar planetas no universo? Vamos predar recursos naturais em outros planetas? Assim as pesquisas reforçam o método capitalista de explorar. 28/10/12.
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